Uma relação entre dieta hipercalórica e envelhecimento
Entendendo alguns mecanismos metabólicos que regem o relógio da vida
Os
radicais livres são entidades químicas que gozam de uma grande amplitude de
atuação na fisiologia do corpo humano e uma vez analisados à luz da bioquímica
fica evidente que a harmonia do metabolismo encontra-se a mercê do equilíbrio
entre os radicais livres e os antioxidantes. Uma vez perturbada a devida
proporção desses elementos gera-se um fenômeno conhecido como estresse
oxidativo cujas causas são das mais variadas.
O
presente texto tem como desígnio explorar as dietas hipercalóricas como um
fator de geração de estresse oxidativo e a sua consequente influência no
processo de envelhecimento.
Experiências
que remontam à década de 30 conduzidas com camundongos já ofereciam evidências
empíricas da relação entre um menor consumo de calorias com um aumento da
longevidade. Em um desses experimentos percebeu-se que os roedores submetidos à
restrição alimentar sobreviveram 50% a mais do que aqueles que foram providos
de uma dieta ad libitum (sem
restrições).
Tal
experimento, entretanto, dava margem para a seguinte interpretação: os ratos
submetidos à dieta ad libitum eram providos de um maior acúmulo de gordura,
seria então a gordura ou a maior ingestão calórica a responsável pela perda de
longevidade? A fim de por termo a essa dúvida realizou-se o seguinte
experimento: ratos com genes para obesidade e ratos normais foram submetidos a
uma mesma dieta de modo que ao final do processo percebeu-se que os ratos com
tendência a engordar possuíam um maior acúmulo de gordura corporal que os ratos
normais, entretanto ambos os grupos apresentaram a mesma longevidade. Tal fato
evidencia que não o percentual de gordura corporal, mas sim a ingestão calórica
o fator fundamental na determinação da longevidade.
A
produção de radicais livres, ao contrário do que se pensou durante muitos anos,
não é motivada apenas por fatores externos ao organismo, mas também ocorre no
interior da máquina orgânica. As mitocôndrias configuram-se como compartimentos
no interior das células nos quais há uma expressiva produção de radicais livres
oriundas do processo de produção de energia a partir de biomoléculas presentes
na alimentação.
De uma
forma sucinta e didática pode-se resumir a produção de radicais livres no
interior da mitocôndria da seguinte maneira:
Os
elétrons provenientes dos nutrientes são abrigados em moléculas de NADH e FADH2
para então serem conduzidos ao longo da cadeia respiratória na qual terão que
passar por uma série de proteínas presentes na membrana interna da mitocôndria.
Ao longo desse trajeto o elétron estimula o bombeamento de prótons para o
espaço intermembrana gerando assim um gradiente de concentração que é
parcialmente desfeito pela enzima ATP sintase em prol da síntese de ATP. Ao
final do processo o elétron tem como aceptor final o oxigênio, que juntamente
com o hidrogênio presente na matriz mitocondrial produz água.
Entretanto,
o processo em questão é passível de falhas de tal sorte que o elétron “fuja” da
cadeia respiratória antes de concluir todo o seu trajeto, sendo a ocorrência de
tal fenômeno mais provável no sítio do complexo I ou da coenzima Q. Uma vez que
isso tenha ocorrido, o elétron reage com o oxigênio molecular, reduzindo-o a ânion radical
superóxido.
Dessa
forma, uma maior quantidade de nutrientes que sirvam de matéria prima para a produção
de energia consequentemente aumentará a ocorrência da cadeia respiratória e ao
mesmo tempo a probabilidade de se gerar radicais livres por meio do mecanismo
descrito anteriormente. A partir disso, fica evidenciada a relação entre uma
dieta hipercalórica com uma maior produção de radicais livres.
Os
radicais livres produzidos ao longo desse processo são portadores de uma farta
reatividade, o que os fazem potencialmente nocivos para outras moléculas
constituintes da estrutura e do metabolismo celular. Dessa forma, tais
entidades atuam como aceleradores do processo de envelhecimento celular e
consequentemente do processo de envelhecimento orgânico.
Para
fechar o raciocínio aqui exposto devemos entender que ao longo do processo
evolutivo o metabolismo humano foi desenhado para permanecer durante certos
períodos privado do consumo de calorias. A vida moderna oferece ao homem
contemporâneo a possibilidade de consumir refeições de elevador teor calórico e
com relativa regularidade, sobrecarregando assim certas vias do seu metabolismo
de modo a gerar estresse oxidativo.
Fontes:
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