segunda-feira, 21 de maio de 2012

Uma relação entre dieta hipercalórica e envelhecimento

Entendendo alguns mecanismos metabólicos que regem o relógio da vida 


                Os radicais livres são entidades químicas que gozam de uma grande amplitude de atuação na fisiologia do corpo humano e uma vez analisados à luz da bioquímica fica evidente que a harmonia do metabolismo encontra-se a mercê do equilíbrio entre os radicais livres e os antioxidantes. Uma vez perturbada a devida proporção desses elementos gera-se um fenômeno conhecido como estresse oxidativo cujas causas são das mais variadas.
                O presente texto tem como desígnio explorar as dietas hipercalóricas como um fator de geração de estresse oxidativo e a sua consequente influência no processo de envelhecimento.
                Experiências que remontam à década de 30 conduzidas com camundongos já ofereciam evidências empíricas da relação entre um menor consumo de calorias com um aumento da longevidade. Em um desses experimentos percebeu-se que os roedores submetidos à restrição alimentar sobreviveram 50% a mais do que aqueles que foram providos de uma dieta ad libitum (sem restrições).


                Tal experimento, entretanto, dava margem para a seguinte interpretação: os ratos submetidos à dieta ad libitum eram providos de um maior acúmulo de gordura, seria então a gordura ou a maior ingestão calórica a responsável pela perda de longevidade? A fim de por termo a essa dúvida realizou-se o seguinte experimento: ratos com genes para obesidade e ratos normais foram submetidos a uma mesma dieta de modo que ao final do processo percebeu-se que os ratos com tendência a engordar possuíam um maior acúmulo de gordura corporal que os ratos normais, entretanto ambos os grupos apresentaram a mesma longevidade. Tal fato evidencia que não o percentual de gordura corporal, mas sim a ingestão calórica o fator fundamental na determinação da longevidade.
                A produção de radicais livres, ao contrário do que se pensou durante muitos anos, não é motivada apenas por fatores externos ao organismo, mas também ocorre no interior da máquina orgânica. As mitocôndrias configuram-se como compartimentos no interior das células nos quais há uma expressiva produção de radicais livres oriundas do processo de produção de energia a partir de biomoléculas presentes na alimentação.
                De uma forma sucinta e didática pode-se resumir a produção de radicais livres no interior da mitocôndria da seguinte maneira:
                Os elétrons provenientes dos nutrientes são abrigados em moléculas de NADH e FADH2 para então serem conduzidos ao longo da cadeia respiratória na qual terão que passar por uma série de proteínas presentes na membrana interna da mitocôndria. Ao longo desse trajeto o elétron estimula o bombeamento de prótons para o espaço intermembrana gerando assim um gradiente de concentração que é parcialmente desfeito pela enzima ATP sintase em prol da síntese de ATP. Ao final do processo o elétron tem como aceptor final o oxigênio, que juntamente com o hidrogênio presente na matriz mitocondrial produz água.
                Entretanto, o processo em questão é passível de falhas de tal sorte que o elétron “fuja” da cadeia respiratória antes de concluir todo o seu trajeto, sendo a ocorrência de tal fenômeno mais provável no sítio do complexo I ou da coenzima Q. Uma vez que isso tenha ocorrido, o elétron reage com o oxigênio molecular, reduzindo-o a ânion radical superóxido.

                Dessa forma, uma maior quantidade de nutrientes que sirvam de matéria prima para a produção de energia consequentemente aumentará a ocorrência da cadeia respiratória e ao mesmo tempo a probabilidade de se gerar radicais livres por meio do mecanismo descrito anteriormente. A partir disso, fica evidenciada a relação entre uma dieta hipercalórica com uma maior produção de radicais livres.
                Os radicais livres produzidos ao longo desse processo são portadores de uma farta reatividade, o que os fazem potencialmente nocivos para outras moléculas constituintes da estrutura e do metabolismo celular. Dessa forma, tais entidades atuam como aceleradores do processo de envelhecimento celular e consequentemente do processo de envelhecimento orgânico.
                Para fechar o raciocínio aqui exposto devemos entender que ao longo do processo evolutivo o metabolismo humano foi desenhado para permanecer durante certos períodos privado do consumo de calorias. A vida moderna oferece ao homem contemporâneo a possibilidade de consumir refeições de elevador teor calórico e com relativa regularidade, sobrecarregando assim certas vias do seu metabolismo de modo a gerar estresse oxidativo.



Fontes:






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